domingo, 23 de outubro de 2011

Pequena Grande Città






Achei que deveria comentar alguns acontecimentos recentes que assolaram a Cidade Eterna.
Com poucos dias de intervalo, dois eventos que deixaram cicatrizes na urbe.
Para nós (eu e minha família), um choque de realidade, uma espécie de bem-vindos ao que uma grande cidade é.

No dia 15 de outubro, a cidade se preparou para a manifestação mundial dos indignados. O protesto era contra o capitalismo exacerbado e a qualquer preço, contra o ensino precário, contra os juros altos, enfim, contra tudo aquilo que costumamos protestar, ainda que seja em uma mesa de bar ou numa reunião de família. A cidade se encheu de membros das forças da ordem (polícia mesmo, no bom Português) e se prepara para a ocasião.

Meu carro está por ser guinchado. Não porque parei em local proibido, mas porque a polícia precisa daquele local para bloquear uma passagem. Lá vai o Eli correndo tirar o veículo, afinal, queremos colaborar e carro guinchado não está em nossos planos. Pensei: "mas que exagero".
Lá pelas tantas, algo não vai bem... ao que tudo indica, uma gangue infiltrada no cortejo começa a destruir vitrines, incendiar carros, causar danos a imagens religiosas, enfim... tudo o que não queremos que aconteça nestes momentos. Uma pena. No dia seguinte, a cidade conta o prejuízo. Descubro que muito perto de casa, houve grandes danos ao patrimônio público e privado. Isto em nada vai ajudar na causa. Não era exagerado o tanto de polícia nas ruas. Imagino o que poderia ter ocorrido se os arruaceiros conseguissem ultrapassar o isolamento.
Um dos símbolos negativos da baderna foi um rapaz, encapuzado, atirando um extintor nas forças policiais. Foi preso. Segundo os jornais, é um estudante, faz faculdade à distância (sim, aqui também tem e nada contra, apenas quero noticiar, pois fiquei surpresa com este fato, achei que era novidade brasileira), tem 24 anos, algumas passagens por drogas... e disse que não queria fazer mal a ninguém. Acabou fazendo. Fez mal à causa, a quem teve prejuízo e a ele mesmo e aos seus. 

Passados alguns dias, outro choque: uma chuva intensa alaga a cidade. E meus vizinhos romanos comentam, "Roma é assim mesmo, quando chove, tudo alaga", "as galerias de Roma são da época romana...". Os apartamentos do térreo se alagam. Passei a manhã recebendo vizinhos que vinham ver se meu terraço tinha algum problema. Não tinha. Quer dizer, a proprietária acabou resolvendo aumentar o buraco para escoar a água da chuva... segundo ela, a maior dos últimos 57 anos. Espero que resolva. Notamos que na rua alagada, alguns bueiros tapados pelo lixo impediam o escoamento da água. Alguém resolve ir lá fazer o desbloqueio. O escoamento melhora. Aqui como acolá, o velho problema do lixo jogado nas ruas. Naquela manhã, não consegui sair de casa. A cidade ficou paralisada, o metrô fechou, anunciaram dois mortos. A tragédia também ronda a cabeça do mundo.

Se o leitor olhar bem, verá que as três fotos foram tiradas do mesmo local, apenas numa  perspectiva um pouco diversa. Mas, a primeira, mostra a cidade como eu a vejo, ou como todos gostariam que ela fosse sempre. As outras duas, mostram a cidade como ela fica de vez em quando... não vou dizer que as fotos da manifestação e da enchente mostram a cidade como ela efetivamente é. Não, Roma é bela e ensolarada. Ponto. Quem a faz mudar somos nós.


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