sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Duas malas, dois ritos de passagem e nada em comum


Por vezes, perco um tempão viajando na maionese... fico ligando fatos que - em tese - nada tem a ver um com o outro. Recentemente, isto me ocorreu.  

Para começar o relato de hoje, preciso voltar no tempo. Mais precisamente no ano de 2003, ano de formatura de minha segunda faculdade. Foi um final de curso árduo, cansativo. Eu tenho três grandes amigas de faculdade (a Crica, a Fer e a Mix), e meu marido nos denomina "As Normais". Imagine-se o porquê. Resolvemos que, terminado o curso, faríamos um ritual de passagem. Deveríamos queimar nosso principal trauma (uma prova, um trabalho). Findo o curso, lá fomos nós para o meu apê, vestimos uns lençóis, e descobrimos que não tínhamos pilha na máquina pra tirar umas fotos (é... em 2003 usávamos máquina fotográfica movida a pilha). E aquele momento TINHA de ser registrado, afinal, era nosso ritual de passagem e nenhuma de nós tinha feito aquilo antes. Supermercado perto de casa, capital federal, pilha comprada, os transeuntes achando tudo muito normal nós estarmos vestida de lençóis, afinal, quem mora em metrópole não pode se surpreender com este tipo de coisa, e a Crica resolve pedir a NOTA FISCAL. Doida sim, mas com a nota fiscal em mãos, já que todo cidadão que é consciente tem de pedir a nota fiscal, e blá, blá, blá. E a nota demorando para ser emitida, as três ansiosas esperando a Crica para sair correndo dali. E se algum conhecido aparecesse? Bom, enfim sai a nota fiscal e partimos de volta para minha casa. Apagamos a luz, colocamos um CD de canto gregoriano, botamos fogo nos nossos traumas e fomos tomar um champanhe no lago... Não me pergunte a lógica disto tudo. Não sou psicóloga! Depois vou perguntar pra minha sobrinha e psicóloga Rô o que ela acha a respeito. Agora não dá pra divagar a respeito, que seria fuga de tema. Mas a verdade é que nos sentimos muito bem depois do evento. E até hoje damos boas risadas ao recordar o feito.



Há algumas semanas, testemunhei um fato que me fez recordar o episódio acima. Estou na janela de casa, quando de repente, vejo duas turistas balançando uma mala por sobre um contêiner de lixo, elas fazem que vão jogar e voltam com ele ao ponto inicial, como a gente faz com uma criança, brincando. Deduzo que são estrangeiras, pelo sotaque. Após ensaiar três ou quatro vezes, finalmente depositam a mala no local, fazendo um coro tradicional. Então, posicionam-se em frente ao contêiner, uma de cada lado, e improvisam uma dancinha ritmada, de um lado para o outro, e mais um corinho... Eu as entendo. Um ritual de passagem. Aquela mala deve ter representado muito para elas, seja porque as tenha acompanhado em grandes viagens, seja porque estava se tornando uma mala sem alça. Algo passou, para merecer dancinha e tudo mais. 


Isto tudo, para desaguar em outro momento: recebi a visita de meu cunhado, o Joe, e a empresa aérea perdeu a mala dele em Paris. Ainda no aeroporto, fui com ele fazer a ocorrência. A moça me falou que a mala chegaria ainda naquele dia. Fiquei preocupada. Nada é tão simples. Foram três dias de espera e muitas ligações telefônicas. Em uma delas expliquei para o funcionário italiano que o passageiro estava ficando em casa, que estávamos presos à espera da mala, que estávamos em Roma e não podíamos sair e tal (fiz um draminha para tentar sensibilizar o rapaz). Ele me diz, "mas sai, aproveita, a gente liga quando a mala chegar" (meu grau de preocupação aumenta sensivelmente, penso que esta mala não chegará nunca mais). E eu digo, "mas se estou dentro do Vaticano ou na Capela Sistina, e o telefone toca, como faço?" (terei de voltar correndo pra casa para receber a mala). E ele, tranquilamente, me diz: "põe o celular no vibra". Rimos os dois e terminamos a ligação praticamente como grandes amigos de toda a vida. Viva Roma.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O CALDÃO


Moro perto de um local onde há um posto de ajuda humanitária. Sempre aparecem por ali pessoas necessitadas, rostos que já me são familiares.

O da foto, é um deles. Necessitado sim, mas faz ioga. Me pareceu muito justo. O bem-estar é para todos. Achei interessante e muito apropriado.  Eu mesma, em tese uma burguesa assalariada, morro de preguiça de me exercitar ou fazer qualquer atividade. Sinto que aquele ali, que vai pedir auxilio para suprir suas necessidade diárias é muito mais sábio do que eu. Bem, está certo que ele tem um cachimbo do lado, sinal que fuma, e eu não tolero cigarro (os fumantes que me desculpem). Mas isto já é outra historia.

Entre tantos destes que buscam ajuda, tem o Caldão. Quem deu o apelido foi o Arão. Não sei o motivo.  Mas também o apelido me parece apropriado.

O Caldão  é uma figura peculiar. O mais lhe chama a atenção é o fato de que, faça chuva ou faça sol, ele está de casaco de frio, daqueles bem grossos mesmo. E olha que o verão romano é quente.... muito quente.... eu diria, quentíssimo. Mas acho que o Caldão é prevenido. Afinal, logo chega o inverno (aliás, já chegou).

De noite, ele recolhe algumas caixas e dorme no pátio de entrada da igrejinha ao lado de casa. Tudo muito organizado, coloca suas malas e pertences de forma ordeira.

Carrega suas coisinhas num carrinho de bebê. Sempre em ordem (diferentemente do quarto de uma pessoa que eu conheço). Muito organizado, o Caldão.

Acho que o Caldão tem muito a nos ensinar.  Me parece um tipo feliz.

Outro dia, ele resolveu tomar banho. E Roma é pródiga em fontes que jorram incessantemente.  O que chamou a atenção é que ele tomava banho com o seu tradicional e já mencionado casaco de frio, sem tirar.  Enchia uma garrafa e jogava na cabeça, deixando escorrer por sobre o corpo, vestido mesmo. Se esta moda pega... 

domingo, 23 de outubro de 2011

Pequena Grande Città






Achei que deveria comentar alguns acontecimentos recentes que assolaram a Cidade Eterna.
Com poucos dias de intervalo, dois eventos que deixaram cicatrizes na urbe.
Para nós (eu e minha família), um choque de realidade, uma espécie de bem-vindos ao que uma grande cidade é.

No dia 15 de outubro, a cidade se preparou para a manifestação mundial dos indignados. O protesto era contra o capitalismo exacerbado e a qualquer preço, contra o ensino precário, contra os juros altos, enfim, contra tudo aquilo que costumamos protestar, ainda que seja em uma mesa de bar ou numa reunião de família. A cidade se encheu de membros das forças da ordem (polícia mesmo, no bom Português) e se prepara para a ocasião.

Meu carro está por ser guinchado. Não porque parei em local proibido, mas porque a polícia precisa daquele local para bloquear uma passagem. Lá vai o Eli correndo tirar o veículo, afinal, queremos colaborar e carro guinchado não está em nossos planos. Pensei: "mas que exagero".
Lá pelas tantas, algo não vai bem... ao que tudo indica, uma gangue infiltrada no cortejo começa a destruir vitrines, incendiar carros, causar danos a imagens religiosas, enfim... tudo o que não queremos que aconteça nestes momentos. Uma pena. No dia seguinte, a cidade conta o prejuízo. Descubro que muito perto de casa, houve grandes danos ao patrimônio público e privado. Isto em nada vai ajudar na causa. Não era exagerado o tanto de polícia nas ruas. Imagino o que poderia ter ocorrido se os arruaceiros conseguissem ultrapassar o isolamento.
Um dos símbolos negativos da baderna foi um rapaz, encapuzado, atirando um extintor nas forças policiais. Foi preso. Segundo os jornais, é um estudante, faz faculdade à distância (sim, aqui também tem e nada contra, apenas quero noticiar, pois fiquei surpresa com este fato, achei que era novidade brasileira), tem 24 anos, algumas passagens por drogas... e disse que não queria fazer mal a ninguém. Acabou fazendo. Fez mal à causa, a quem teve prejuízo e a ele mesmo e aos seus. 

Passados alguns dias, outro choque: uma chuva intensa alaga a cidade. E meus vizinhos romanos comentam, "Roma é assim mesmo, quando chove, tudo alaga", "as galerias de Roma são da época romana...". Os apartamentos do térreo se alagam. Passei a manhã recebendo vizinhos que vinham ver se meu terraço tinha algum problema. Não tinha. Quer dizer, a proprietária acabou resolvendo aumentar o buraco para escoar a água da chuva... segundo ela, a maior dos últimos 57 anos. Espero que resolva. Notamos que na rua alagada, alguns bueiros tapados pelo lixo impediam o escoamento da água. Alguém resolve ir lá fazer o desbloqueio. O escoamento melhora. Aqui como acolá, o velho problema do lixo jogado nas ruas. Naquela manhã, não consegui sair de casa. A cidade ficou paralisada, o metrô fechou, anunciaram dois mortos. A tragédia também ronda a cabeça do mundo.

Se o leitor olhar bem, verá que as três fotos foram tiradas do mesmo local, apenas numa  perspectiva um pouco diversa. Mas, a primeira, mostra a cidade como eu a vejo, ou como todos gostariam que ela fosse sempre. As outras duas, mostram a cidade como ela fica de vez em quando... não vou dizer que as fotos da manifestação e da enchente mostram a cidade como ela efetivamente é. Não, Roma é bela e ensolarada. Ponto. Quem a faz mudar somos nós.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Bin Laden em Roma?



Espero o sinal abrir para nós, pedestres... lá vem um carro dos Carabinieri, em alta velocidade, com a sirene altíssima, como sói acontecer na cidade. O sinal está aberto para nós, mas esperamos a polícia passar. São dois carros. Para mim, um fato muito normal... não para o desconhecido ao meu lado. Italianamente, ele une os dedos, balançando as mãos para cima e para baixo e, romanamente, diz: “mas quem estes vão prender?? Bin Laden?”. Rio internamente. Em italiano, a frase soa muito mais engraçada. Como esta cidade é peculiar, rio à toa.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma noite em Itapoã



Uma das coisas mais lindas que eu já presenciei, foi um show do nosso grande Toquinho...(agora, veio um pensamento tonto... se ele é o grande Toquinho, seu nome deveria ser Tocão, mas esta é uma piada muito ridícula que só estou partilhando porque este blog tem por fim repassar as MINHAS IMPRESSÕES, mesmos as mais ridículas).

Durante o show, o Toquinho, que é um oriundi e apaixonado pela Itália falou o quanto estava feliz em Roma e tal, e que ao passear pela cidade, “teve a impressão de que em Roma, ninguém trabalha”. Todos na platéia riram, inclusive os italianos... É claro que se trabalha em Roma... mas a impressão.... Depois, um italiano, muito feliz, disse que adorou a frase. Que bom. Eu também.


P.S.: como boa tiete, ao fim do concerto, tratei de tirar uma foto, pedir autógrafo, aquelas coisas... Aproveitei pra falar que eu estava me sentindo nas nuvens após um espetáculo tão maravilhoso, e que, naquele momento, guerra não existia, só paz... Tudo muito piegas, mas tiete é assim mesmo. Saio de lá cantarolando... “numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...”, intercalada com “... passar uma tarde em Itapoã...”.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mi presento


Pensei em compartilhar alguns momentos interessantes. Uns, porque práticos. Outros, porque engraçados, filosóficos... ou sem motivo algum (a arte não tem explicação, mas não pretendo fazer arte...). São minhas impressões e pronto. Talvez o leitor até discorde, se irrite, queira contestar. Fique a vontade.

Morar em Roma. No centro histórico. Ser vizinha de uma construção que tem mais de dois mil anos. É muito mais do que meu antigo sonho de apenas morar no exterior, sonho este acalentado quando adolescente. Não imaginei que isto fosse efetivamente acontecer. Mas, um dia, um desconhecido me falou que depois de morar em um plano alto, eu iria realizar um sonho... Depois do planalto central, Roma, caput mundi.

O sonho se realizou e não poderia guardar o sentimento que estes fatos me causam somente para mim. Muitas vezes, são sentimentos confusos, mas Roma é confusa e viver é uma grande confusão e isto tudo torna esta cidade ainda mais fascinante.

A Itália sempre foi um encantamento para mim. Além de descender dos dois lados de avós italianos, sou apaixonada por História e por Turismo. Com o passar dos anos, adquiri outra paixão: comer bem. Tudo a ver com Roma.

Roma não tem explicação. Por isto, minhas impressões. Não necessariamente, o que ela é.