quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A Duquesa e os cães

Estamos no inverno, mas resolvi falar de uma aventura de verão. Sou aficionada por caminhadas. Aliás, todos aqui em casa o são, para minha sorte. Ainda no auge do verão, resolvemos fazer uma caminhada por um belo local na Itália. Escolhi ao acaso um parque, usando aquele bom e velho instrumento de fotos por satélite. Sua beleza vista do alto me chamou a atenção. Não sabia absolutamente nada sobre a Riserva Naturale Regionale Montagne della Duchessa. Imprimi algumas informações, mapas, fiz reserva em um B&B e lá fomos nós. Um passeio barato e inesquecível.

Costumo dizer que na Itália até o "mato" é bonito!
"mato?"



Ficamos no Valle Amara, no sopé de uma das montanhas que formam a reserva, no distrito de Corvaro, onde também fica a sua sede. O vilarejo é maravilhoso, pequeno e acolhedor. Trata-se de um burgo medieval, cujas vielas ao anoitecer lhe transferem para um filme antigo, basta usar um pouco da imaginação. 



Dormimos maravilhados com o que vimos na cidade, mas a natureza ainda nos reservava uma grande surpresa no dia seguinte.





As montanhas são dominadas por uma superfície áspera, de campos perenes. Árvores de médio e grande porte não crescem por ali. Para quem está habituada com a exuberância da Mata Atlântica e da Amazônia, foi um pouco estranho. Mas, nem por isto, pode-se falar de beleza inferior. Apenas é outra beleza. As paisagens que o leitor pode admirar pelas fotos falam por si, poupam-me de ficar buscando adjetivos que talvez sejam injustos.






Nossos companheiros de caminhada!
Iniciamos cedo nossa subida pela montanha, após um café da manhã gentilmente preparado pelo proprietário do B&B, que, de quebra, ainda nos preparou uns sanduíches que depois se mostrariam muito valiosos. Logo na partida, fomos seguidos por três cães que moram nas vizinhanças. Tentamos, inutilmente, demovê-los da ideia de nos seguir. Foram bons companheiros. Aliás, foram nossa alegria durante todo o passeio. Com eles, compartilhamos nossa alegria, nosso êxtase diante de tanta beleza, nossos lanches e ainda, nossa água.





Não havia refúgios para nos abastecer, ou, ao menos, não os encontramos. Depois descobrimos que chegamos perto de uma fonte de água, mas o cansaço nos impediu de continuar. Se tivéssemos andado mais algumas centenas de metros, teríamos chegado lá. Os cães acharam um poço natural formado por uma raiz, com água de chuva acumulada e ali colocamos um pouco de nosso precioso líquido para eles.




Fizemos apenas uma das montanhas, existem outros itinerários, mas uma subida por fim de semana já apaziguou a vontade de estar em meio à natureza. Retornamos com sede e o calor nos exauriu. Cansados sim, mas só no corpo físico, pois a alma não poderia estar mais leve.

sábado, 10 de dezembro de 2011

A torre pendente e muito mais



Uma das cidades mais visitadas da Itália é Pisa. E eu recomendo. Seu centro histórico é bastante concentrado, pode-se fazer praticamente tudo a pé, sem necessidade de se recorrer a um carro e isto é muito bom.

Campo dei Miracoli: batistério (esquerda), camposanto (ao fundo)
catedral (ao centro) com a torre


A Torre Pendente, como dizem os italianos, fica no Campo dei Miracoli, que comporta ainda a catedral e o batistério, além do camposanto (cemitério). É possível visitar estes monumentos em um só dia. Entretanto, é recomendável fazer a prévia aquisição do ingresso de subida ao topo da torre, pois há uma limitação de horários e de número de visitantes que podem fazer a subida por vez. É possível a compra casada dos bilhetes para entrar em outros monumentos, ficando mais barato. Pode-se, inclusive, comprá-los à noite para o dia seguinte. Fiz assim e não me arrependi, pois os primeiros horários do dia seguinte já estavam esgotados. Se puder passar a noite na cidade, visite neste período o Campo dei Miracoli. Os monumentos iluminados são fantásticos e dependendo da época do ano, a torre fica aberta à visitação. E volte no dia seguinte com a luz do sol.

Terra de cientista, gerou,  entre outros,  Fibonacci e  Galileu Galilei. Teria sido do alto da famosa torre que este último teria realizado um de seus mais famosos experimentos. Para Galileu, o peso do corpo não deveria influenciar no tempo da queda. No início da escadaria da torre há uma menção ao fato, o qual nem todos estão de acordo que efetivamente teria ocorrido naquele local.


O camposanto foi bombardeado durante a Segunda Guerra e grande parte de seus afrescos foi destruída, mas, ainda assim permanece muito bonito. O teto foi completamente refeito, já que foi posto abaixo pelas bombas na ocasião e os afrescos estão sendo recuperados.






O Rio Arno corta a cidade e dá-lhe ainda mais um belo aspecto, digno de cartão-postal. É à  sua beira que está a Chiesa di Santa Maria della Spina. Em estilo gótico, seu exterior é belíssimo. Não posso falar do interior, pois estava fechada (me dói o coração saber que não pude visitá-la). Em razão das proximidades com o rio e do terreno que cedia, sofreu diversas intervenções, inclusive sua remoção para alguns metros mais longe do rio. A pequena igreja resistiu e é muito procurada pelos visitantes. Brava Maria!

E para não perder o bom humor:

Pisada desenhada num piso de Pisa

E pra subir na torre: pisa, pisa...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Ghetto


É um de meus locais preferidos em Roma. Maioria no local, desde que em 1555 uma bula papal os obrigou a morar em seu interior, os judeus ainda mantém ali muitas de suas tradiçõesO local compreende alguns poucos quarteirões e tem uma bela arquitetura, que compreende, é claro, diversas fases pelas quais a cidade passou. Tem o Portico di Ottavia, da Roma Antiga, uma sinagoga do início do século passado e um belo casario oitocentesco. Seus restaurantes são muito procurados pelos turistas e caminhar pelo local é bastante agradável, como aliás ocorre quase sempre em Roma. 


O posto e seu entorno transpiram arte. Seja pelas cores marcantes, seja pela sua arquitetura, seja pelas lojas dedicadas às diversas expressões artísticas.



Não se pode, entretanto, passar pelo Ghetto e não imaginar o pesadelo que aconteceu ali na madrugada de 16 de outubro de 1943: mais de mil judeus foram capturados, forçados a deixar suas casas e transportados de trem até o horror de Auschwitz. Menos de 20 sobreviveram, somente uma mulher. Nenhuma criança retornou. O fato é relembrado em frente ao Portico di Ottavia e em outros locais do bairro. 























Felizmente, hoje, o local é invadido por outras hordas: turistas, locais, famílias, e até ciclistas. As ruas quase sempre fechadas ao tráfego favorecem a turma do pedal. E tem também os aficionados como eu! 

Se estiver por Roma, não deixe de ir ao Ghetto, a pé ou de magrela. E aproveite para atravessar o Tevere e chegar até a Isola Tiberina, da qual oportunamente vou falar. Ou, do lado oposto, descer o Portico di Ottavia e apreciar o Teatro di Marcello, passar pelo Campidoglio, pelo Vitoriano, pela Piazza Venezia, pelo Coliseu...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Meu encontro com Cecília

Paisagem que inspirou Cecília

Uma bela tarde, voltando para casa seguindo as margens do Tevere, vejo nas paredes de canalização do rio alguns poemas que se referem à cidade. Leio-os, despretensiosamente. Num átimo, algo me chama a atenção: escrito em Português com a tradução mais abaixo, estava lá o poema Adeus a Roma, de Cecília Meireles, da sua obra Poemas Italianos. 



Chego em casa e corro para o computador, para fazer aquela busca tradicional... Cecília Meireles viajou com o marido pela Itália em 1953, quando escreveu os poemas em questão. São lindos. Que frase mais lugar-comum para descrever a obra da poeta, mas não me ocorre outra. Para mim, basta apreciar, não me sinto à vontade para comentar seu estilo ou afirmar que tais poemas são os seus melhores ou piores. Para mim, basta que me emocionem.


Releio os versos e os entendo perfeitamente. Quanta precisão e quanta sutileza para descrever cenas tão tipicamente romanas. Cecília numa folha de papel sempre encanta. Ler seus versos na paredes do Tevere é incorporar o seu espírito e achar que a obra dela, também é sua. Bella Cecília.